segunda-feira, 19 de abril de 2010

- Do presente inesperado.


Não, definitivamente ela não era a mademoiselle que a sua vó sonhara como futuro para uma menina tão engraçadinha.
Vivia com os joelhos encardidos, com os cabelos revoltos afogueados no rosto e uma coceirinha na nuca que não a deixava em paz. Ainda que acabasse de sair enrolada por toalhas felpudas do banho, tinha aquela "sarna-de-gente-limpa" (como sua mãe chamava) para lhe complicar a vida.
Passou a semana pensando no menininho loiro que andava de bicicleta nas redondezas. Não sabia o nome dele e nem se importava ainda com isso. Era uma criança e para ela sonhar que o nome dele era algo melodramático como "Carlos Augusto" a fazia sorrir. Passava as tardes inventando nomes compostos para seu pseudonamorado. Mas era feliz assim. E isso até então bastava.
Só que numa dessas tardes de sol a pino, acalorada que dava de presente uma centelha de suor em sua testa ela percebeu que não poderia continuar risonha sendo só. E chegou a essa conclusão quando o menino loiro passou rasgando a rua, em meio a uma gente monótona, sem graça, insossa. Levando consigo ervas daninhas arrancadas uma a uma do canteiro da vizinha. A menina de joelhos enxovalhados, no alto de seus nove anos de idade, percebeu que teria que casar com ele.
E naquela mesma semana começou a colocar em prática seus planos.
Pensou em pedir ao seu pai que comprasse uma camiseta tricolor ao menino. Sim, logo após ele iria agradecê-la, colocaria uma vivacidade absurda em seus olhos turmalina e diria: "Também te amo, meu amor". Finalmente, ela seria o amor de alguém. Seria o amor daquele menino loiro. Poxa, como ela estava feliz.
Mas Deus vezenquando é meio esquisito. Ao menos foi isso que ela pensou quando o pai disse que a grana aquele mês estava curtíssima e que ela teria que esperar pela mesada de setembro. Era início de agosto e ela teria que esperar setembro. Era uma tristeza só. Agosto, mês do desgosto. O amor se tornava remoto, longínquo por vinte e poucos dias. Não, ela não poderia esperar tanto.
Foi quando teve aquela idéia mágica.
A menininha morena era adepta de idéias.
(...Sempre inventou brincadeiras geniais em que apenas ela e sua sombra participavam. Não que ela fosse chata e que ninguém quisesse depositar um pouquinho de suas horas com ela, mas desde cedo ela aprendeu que não precisaria comprovar ao mundo, às meninas metidinhas de sua classe que era uma pessoa legal. Desistiu disso tudo um dia e resolveu brincar com sua própria imaginação).
E deve ser por isso que teve aquele rompante e correu para dentro da casa, revirou o armário e despejou tudo que havia dentro de uma caixinha velha onde ela costuamava guardar seus tesouros.
E com brocados, pedaços de cetim, papel crepom lilás, fio de nylon, tinta com purpurina para tecido, pedaços de cartolina fatiados fez a coisa mais bonita que alguém poderia criar.
Foi dormir exausta. Realmente um início de romance desgastava quem ainda era inexperiente nessas terras fantásticas do amor.
No outro dia ficou desde cedo sentada na frente de sua casa, esperando ele passar.
Estava tão radiante e inexplicavelmente bonita com sua camisa branca nova, seus sapatinhos vermelhos que quando o menino se aproximou com a bicicleta parou de correr naquela habitual velocidade desmedida.
Ele parou.
Desceu da bicicleta e ficou vendo aquela miragem em sua frente. Como poderia ter passado por ali e nunca tinha reparado nela? No alto de seus oito anos e meio tinha uma pressa pra aproveitar a vida e não havia prestado atenção suficiente naquela menina linda.
Ela estendeu as duas mãos e entregou a ele uma caixinha azul com um grande laço branco.
Ele aceitou timidamente. Não tinha nada para retribuir aquela oferenda.
Rasgou o papel e não acreditou no que viu no fundo da caixa.
Perguntou ainda:
- É o teu?
A menina replicou:
- É o meu sim. E é pra ti.
Ele apertou contra o peito o coração de miudezas que havia sido confeccionado por ela.
Levantou a menina da ponta do muro e lhe deu um beijo estalado na bochecha direita.
E com a bicicleta sendo levada com o braço esquerdo, o menino loiro recostou o seu braço direito inteirinho nas costas da menina. E saíram juntos por aí.
(E dizem que desde aquele instante só deu pra se escutar um par de órgãos encarnados pulsando juntos para o todo sempre).

PS: Para ti que tens estes fios negros em que gosto de me perder.

Autoria: Arthur Brito
Texto dedicado a mim, Nanna Pimentel.

domingo, 18 de abril de 2010

A dor que mais dói.

Trancar o dedo numa porta dói. Bater com o queixo no chão dói. Torcer o tornozelo dói. Um tapa, um soco, um pontapé, dóem. Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua, dói cólica, cárie e pedra no rim. Mas o que mais dói é saudade.
Saudade de um irmão que mora longe. Saudade de uma cachoeira da infância. Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais. Saudade do pai que já morreu. Saudade de um amigo imaginário que nunca existiu. Saudade de uma cidade. Saudade da gente mesmo, quando se tinha mais audácia e menos cabelos brancos. Dóem essas saudades todas.
Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama. Saudade da pele, do cheiro, dos beijos. Saudade da presença, e até da ausência consentida. Você podia ficar na sala e ele no quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá. Você podia ir para o aeroporto e ele para o dentista, mas sabiam-se onde. Você podia ficar o dia sem vê-lo, ele o dia sem vê-la, mas sabiam-se amanhã. Mas quando o amor de um acaba, ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter.

Saudade é não saber. Não saber mais se ele continua se gripando no inverno. Não saber mais se ela continua clareando o cabelo. Não saber se ele ainda usa a camisa que você deu. Não saber se ela foi na consulta com o dermatologista como prometeu. Não saber se ele tem comido frango de padaria, se ela tem assistido as aulas de inglês, se ele aprendeu a entrar na Internet, se ela aprendeu a estacionar entre dois carros, se ele continua fumando Carlton, se ela continua preferindo Pepsi, se ele continua sorrindo, se ela continua dançando, se ele continua pescando, se ela continua lhe amando.

Saudade é não saber. Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento, não saber como frear as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.

Saudade é não querer saber. Não querer saber se ele está com outra, se ela está feliz, se ele está mais magro, se ela está mais bela. Saudade é nunca mais querer saber de quem se ama, e ainda assim, doer.

Autoria: Martha Medeiros

Auto-definição.

Possessiva e ciumenta, sou de falar tudo o que penso. Viver para mim, é ter paixões arrebatadoras, que tiram o fôlego do peito e os pés do chão, que podem durar para sempre ou "que sejam infinitas enquanto durem", como diria Vinícius de Moraes; mas, sempre que me apaixono tenho a certeza de que encontrei o homem da minha vida (aquele, com quem toda mulher sonha, viver feliz e para sempre!). Insisto em acreditar que posso mudar o mundo e que o principal objetivo de estarmos aqui, é perseguir, perseguir e perseguir a felicidade e que o resto, todo o resto, são conceitos baseados em uma moral hipócrita, que nos foram impostos.
Só ando em cima de um salto alto. Molho os lábios com "gloss" de morango ou menta e uso colônia de lavanda antes de dormir. Meu cartão de crédito não é meu psicólogo. Sinto saudades, como todo mundo e resolvo: com um poema, se for do meu amor; com um telefonema, se for de um familiar ou de um amigo.
Troco sozinha a resistência do chuveiro e resolvo outros problemas desta ordem, em casa. Sei fazer planilhas orçamentárias, checar o extrato da conta corrente e tenho consciência de que isso e nada é a mesma coisa.
Se for de vinho, prefiro tinto seco, ou até um branco seco depende da companhia e do acompanhamento, óbvio.
Para seduzir-me, um bom vinho, uma boa conversa, seja provocante e com beijos incessantes.
Compro briga com tudo que contrarie, aquilo que eu ache ser meu direito ou de outros a quem represento (não entro em brigas que não me dizem respeito), desço do salto: mas nunca perco a elegância ("Pero sin perder la ternura", a la Guevara - afinal sou uma mulher e, quando quero, extremamente feminina).
Quando defendo algo ou um ideal, falo tudo o que penso sem dar a mínima se existe no recinto, alguma autoridade presente, sendo ela ou não envolvida no assunto. Até prefiro que seja, pois não sou do tipo que manda recados, pois geralmente chegam distorcidos.
Sou romântica, dinâmica e explosiva (quando alguém mexe com aquilo que acredito: o que costumo chamar de minhas bandeiras) e, só falo com propriedade.
Diante da "burrice" me calo, ainda mais agora, que descobri que existe um antídoto para ela (então, aguardo até que a pessoa o tome).
Eis aqui uma mulher bem resolvida, que acredita que amar sempre vale a pena e que vive qualquer sentimento com toda a intensidade de uma legítima Sargitariana.


Texto encontrado no site: http://www.luso-poemas.net/
ps.: não conseguir visualizar a autoria.

sábado, 17 de abril de 2010

Eu por Fernanda Young.

"Sou cheia de manias. Tenho carências insolúveis. Sou teimosa. Hipocondríaca. Raivosa, quando sinto-me atacada. Não como cebola. Só ando no banco da frente dos carros. Mas não imponho a minha pessoa a ninguém. Não imploro afeto. Não sou indiscreta nas minhas relações. Tenho poucos amigos, porque acho mais inteligente ser seletivo a respeito daqueles que você escolhe para contar os seus segredos. Então, se sou chata, não incomodo ninguém que não queira ser incomodado. Chateio só aqueles que não me acham uma chata, por isso me querem ao seu lado. Acho sim, que, às vezes, dou trabalho. Mas é como ter um Rolls Royce: se você não quiser ter que pagar o preço da manutenção, mude para um Passat."

Autoria: Fernanda Young

Desejos incertos.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Um Arthur e nossa música.

De que forma falar de alguém, de um sentimento, de um momento vivido? Existe uma fórmula para escrever este tipo de coisa? Certamente não! Quantas vezes queremos falar de alguém, de algo e não sabemos por onde começar, o que falar, como falar, como escrever. Pois é, foi essa dúvida que eu tive ao querer escrever este texto. Como falar de Arthur... nem mesmo o vi para saber o jeito dele sorrir, de olhar, de caminhar, mas o sinto. Sinto presente na minha vida (das duas formas a presença dele e por ele ser um presente sublime), no meu dia, na minha alegria, na minha tristeza, sim porque não? Tristeza também, amigos compartilham tudo. E foi assim que tudo começou amizade, a mais sincera e pura amizade, mas como admitir que meu coração dispara quando olho no visor do celular o nome dele “chamando” agora ele vai saber do meu segredo. Quantas vezes eu pedi a ele pra que tentasse me conquista e o ouvir dizer que se quisesse já teria conseguido, convencido ele, hein?! Mas era a verdade como eu queria que ele se empenhasse ao máximo pra me conquistar que pensamento tolo, diversas vezes ouvi “Ne me quitte pas” por causa dele, aquela música me entorpecia de vontade, de saudade, “Não me deixes, não me deixes” “Perólas de chuva de um país que nunca chove” “Onde o amor será rei, Onde o amor será lei”.... Se um dia me perguntassem qual música lembra Arthur na sua vida, sem dúvida responderia “Ne me quitte pas” como é bom ouvi-lo de madrugada cantando no telefone para mim, ouvi suas confissões, te entregar meus medos, nós somos cúmplices, cúmplices de uma amizade, de um amor reprimido, sinto meu coração gritar desesperado quando não ouço a voz dele... Ne me quitte pas...Não me deixes meu anjo, meu amigo, meu cúmplice, meu companheiro. Queria poder te dar mais do que meu pobre e tolo coração, mas hoje é o que tenho de mais valioso a te entregar ele já é seu... está nas suas mãos!